tag:blogger.com,1999:blog-4387766820785225891.post1900624760021619759..comments2023-11-03T05:44:41.043-07:00Comments on Variações sobre um mesmo tema: É tudo que eu posso oferecer ( é pouco...)Universo Cidadehttp://www.blogger.com/profile/05377621506161713497noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-4387766820785225891.post-5091190743117522862008-11-20T20:07:00.000-08:002008-11-20T20:07:00.000-08:00Receita de mulherAs muito feias que me perdoem Mas...Receita de mulher<BR/><BR/>As muito feias que me perdoem <BR/>Mas beleza é fundamental. É preciso <BR/>Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture <BR/>Em tudo isso (ou então <BR/>Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República [Popular Chinesa). <BR/>Não há meio-termo possível. É preciso <BR/>Qu tudo isso seja belo. É preciso que súbito <BR/>Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto <BR/>Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora. <BR/>É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche <BR/>No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso <BR/>Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas <BR/>Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços <BR/>Alguma coisa além da carne: que se os toque <BR/>Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos <BR/>Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro <BR/>Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e <BR/>Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem <BR/>Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então <BR/>Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca <BR/>Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência. <BR/>É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos <BR/>Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas <BR/>No enlaçar de uma cintura semovente. <BR/>Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras <BR/>É como um rio sem pontes. Indispensável <BR/>Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida <BR/>A mulher se alteie em cálice, e que seus seios <BR/>Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca <BR/>E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas. <BR/>Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral <BR/>Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal! <BR/>Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas <BR/>E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem <BR/>No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. <BR/>É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio <BR/>Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!) <BR/>Preferíveis sem dúvida os pescoços longos <BR/>De forma que a cabeça dê por vezes a impressão <BR/>De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre <BR/>Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos <BR/>Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face <BR/>Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca [inferior <BR/>A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras <BR/>Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes <BR/>E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e <BR/>Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão <BR/>Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta <BR/>Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros. <BR/>Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos <BR/>Ao abri-los ela não mais estará presente <BR/>Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá <BR/>E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer [beber <BR/>O fel da dúvida. Oh, sobretudo <BR/>Que ele não perca nunca, não importa em que mundo <BR/>Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade <BR/>De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma <BR/>Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre <BR/>O impossível perfume; e destile sempre <BR/>O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto <BR/>Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina <BR/>Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição <BR/>Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.<BR/><BR/>(Vinícius de Moraes).<BR/><BR/>- Esse poema foi mal interpretado durante anos. E assim continuará sendo...<BR/><BR/>Gostei do texto, Ariadne. Quando li "verso da prova de Biologia", imaginei alguma piadinha sobre Linné e calcinhas baratas. Agradeço-a por me satisfazer com essa leitura.<BR/><BR/>(E eu não estou sendo paradoxal)..https://www.blogger.com/profile/12025589420436067731noreply@blogger.com